sexta-feira, 8 de abril de 2011

Precisamos mesmo de armas?

Acompanhando a cobertura do massacre numa escola municipal do Rio de Janeiro, tanto na TV como na internet, notei muito sensacionalismo (como sempre), psicólogos falando sobre a psicopatia, exploração do conteúdo de uma carta deixada pelo assassino, entrevista com familiares das vítimas e do criminoso, falta de vigilância nas escolas, mas um ponto que considero fundamental não foi abordado em nenhum momento (pelo menos enquanto estive atento às informações), aliás, isso me parece uma coisa intocável na sociedade brasileira. Trata-se do comércio e uso das armas pela população.
Não precisamos de armas em nossa vida! É só pensarmos um pouco e veremos que não faz o menor sentido o cidadão comum ter uma arma, a não ser que ele queira ameaçar ou matar alguém. Conheço pessoas que possuem armas de fogo e dizem que com isso estão se protegendo. Isso é uma grande bobagem! Por acaso você anda por aí com um cartaz dizendo “não venha me assaltar, pois estou armado”? O bandido conta com o fator surpresa, e se você é imobilizado, como pode usar sua arma contra alguém que domina a situação? Acompanhe os noticiários no dia-a-dia e conte nos dedos quantos casos ouve dizer que um cidadão comum conseguiu evitar um assalto utilizando uma arma. Não consigo me lembrar de um sequer.
Outro argumento diz que se alguém quer cometer um crime pode o fazer mesmo sem uma arma de fogo, usando uma faca ou outro objeto letal. Pergunto: dá pra comparar o poder letal de um revólver com outro objeto que não dispare projéteis? Uma arma de fogo tem um longo alcance e mata mais em menos tempo, além de ser mais difícil imobilizar alguém que esteja portando-a.
Armas de fogo têm que estar nas mãos de quem trabalha com segurança, ou seja, pessoas muito bem preparadas pra isso. Policias devem ser bem treinados pra utilizar armas nos momentos adequados.
Algumas medidas importantes no combate à criminalidade nem sequer são abordadas pela mídia: proibição da comercialização de armas e munições (a exceção das forças de segurança); combate ao tráfico desde as fronteiras; investigações e prisões dos grandes bandidos que lucram com esse comércio (aqueles que agente nem vê, nem ouve falar, os abastados que usam terno e gravata, freqüentam os melhores restaurantes, e que estão protegidos pelo sistema). Tais ações dificultariam que as armas chegassem às mãos dos bandidos, pois se você cidadão pode comprar uma arma (que é caríssima quando comprada legalmente), tenha certeza de que os bandidos têm um acesso muito mais fácil às mesmas. Tudo isso aliado a diversas outras medidas como melhores salários e preparação dos profissionais de segurança, programas de inclusão cultural e educacional nas periferias, pra as pessoas desenvolverem seus talentos desde cedo nas artes e nos estudos, integração das comunidades no cuidado com a segurança tanto nas escolas quanto em outros espaços como igrejas, associações, sindicatos.
Mas a imprensa elitista desse país, liderada pela rede Globo, apenas finge que se importa com a violência (não chegando até os ricos, tá tudo bem pra eles), mas na verdade não quer a expansão de direitos pros pobres e não se preocupa em discutir profundamente as causas da criminalidade, pois ela é porta-voz do pensamento da elite brasileira – hipócrita e preconceituosa – que infelizmente forma a opinião da maior parte da população.

Moisés Bonniek

Um comentário:

  1. No recente caso em Realengo, Rio de Janeiro, muito na imprensa se fala em procurar a "raiz" do problema. Querem saber o que motivou o assassino, quem vendeu a arma pra ele. Mas e quem fabricou? Quem colocou um artefato destinado única e exclusivamente à morte. Quando a responsabilidade por mortes de inocentes (não seria bem esta a palavra mas deixa aí) for atribuída ao fabricante do armamento, aí sim poderemos ter algum avanço na questão das armas.

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