quarta-feira, 6 de abril de 2011

Mortes no trânsito, degradação da sociedade

Em setembro do ano passado uma colega de trabalho (recenseadora do IBGE aqui em Pernambuco) viajava numa van ao lado do noivo quando, numa curva, um caminhão fez uma ultrapassagem indevida e se chocou de frente com o carro onde eles se encontravam, os dois morreram na hora. Até quando vamos ter que aturar a repetição de casos como esse?
O Brasil é o quinto colocado em número de mortes em acidentes de trânsito no mundo. Os dados são de um relatório publicado pela OMS em junho de 2009, e ainda revelam que em cerca de metade das mortes as pessoas não estavam de carro, eram ciclistas ou pedestres.
Apesar de sofrermos com a falta de sinalização adequada, principalmente nas rodovias, e com a má conservação das estradas, estes não são os maiores causadores de acidentes no país. Dados comprovam o uso do álcool, o abuso da alta velocidade e o desrespeito às regras de trânsito como os principais fatores deste grave problema de segurança e saúde pública. Dois agentes concorrem para a proliferação de acidentes fatais nas estradas e ruas: impunidade e falta de educação.
A impunidade é um mal que nos assola nas diversas esferas da vida social, e está diretamente ligada ao poder econômico, mostrando que a justiça não é tão cega quanto se diz. Nossa própria legislação ainda apresenta lacunas que favorecem os infratores, principalmente no que se refere às punições, por exemplo: o motorista que atropela e mata enquanto dirigia bêbado pode responder processo em liberdade mediante o pagamento de fiança. E quando o criminoso é rico ou tem muito poder, sabemos que a justiça não funciona, ou melhor, funciona a favor desses. A melhoria nas leis e seu efetivo cumprimento e penalização dos infratores, independentemente de classe social, certamente reduziriam muito os acidentes, pois fariam os indivíduos serem mais prudentes ao pegar no volante, sabendo que poderiam ser punidos pelos seus atos.
A questão da educação é ainda mais ampla. Temos no trânsito um reflexo da falta de educação das pessoas no seu dia-a-dia. De um modo geral, nem as famílias e muito menos as escolas ensinam as pessoas a se comportarem no trânsito. Como espaço de circulação e relação entre pessoas, princípios como o respeito ao espaço do outro (faixa de pedestre, vias de circulação para veículos pesados, ciclovias, etc) e o cuidado com os mais frágeis (pedestres e ciclistas, por exemplo) deveriam ser constantemente observados pelos cidadãos. No currículo escolar não existe sequer uma disciplina que ensine e discuta regras de convivência social.
Não sou otimista em relação a esta situação, pois falta vontade política nesse sentido, a imprensa age de forma sensacionalista, sem discutir as causas do problema, o judiciário reflete o elitismo que impera em nossa sociedade aplicando dois pesos e duas medidas de acordo com suas conveniências, e esse modelo de educação falido nem sequer sofre questionamentos. Por tudo isso, temos que nos indignar, protestar e fazer o papel educativo junto às pessoas, pois não se pode confiar no governo, na imprensa e tampouco no judiciário deste país. Somos nós e nós mesmos nessa luta.


Moisés Bonniek

6 comentários:

  1. Vejo o nosso trânsito como um espaço de poder. Os carros mais potentes são os dominantes, a busca incessante pela velocidade confere disputas acirradas, nas quais vidas e mais vidas vão sendo perdidas. A própria propaganda dos veículos é abusiva, incentivando a maior potência e a maior velocidade. Ora, se na propaganda diz que meu carro pode chegar a 240km/h, por que eu terei que me contentar com os 110km/h?

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  3. O trânsito é uma selva!
    Impressionante o poder que ele tem de transformar as pessoas em animais que brigam por espaço. Apesar de serem os "animais" mais frágeis dessa selva, motociclistas e pedestres também entram nessa briga e, como bem sabemos, são as maiores vítimas. Muitos dos acidentes que ocorrem com os pedestres e motociclitas acontecem por falta de atenção e imprudência dos mesmos. Mas nessa briga não há inocentes e os mais fortes sempre tentarão se sobrepor sobre os mais frágeis.
    A Direção Defensiva, na minha opinião, é a melhor forma de lidarmos com o trânsito e deveria ser matéria obrigatória nas escolas.

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  4. Pois é Rafael! Infelizmente vc e alguns poucos - pedestres, ciclistas ou automotores - têm essa consciencia. Veja que em países desenvolvidos na questao do transito, as pessoas respeitam o espaço alheio e mesmo em alta velocidade (como ocorre nas estradas alemãs) dificilmente há algum acidente.
    E sobre a matéria nas escolas, concordo em gênero número e grau, acho q esse é o ponto fundamental pra a formaçao de uma outra mentalidade e comportamento no trânsito.

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  5. Uma disciplina sobre trânsito na escola acho desnecessária. mas o assunto poderia muito bem ser trabalhado numa disciplina que envolvesse outros temas ligados ao exercício da cidadania, como as leis e os direitos.

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  6. Nick, creio que uma disciplina ligada especificamente ao trânsito deveria ser ministrada nas escolas, pois o problema que temos merece essa atenção.
    Essa disciplina teria um enfoque maior na questão das leis e das consequências de um acidente e poderia ser ministrada no 2º grau, onde já se encontram grande parte dos irresponsáveis do trânsito.

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